O processo de transposição didática

 

“Um conteúdo de saber que tenha sido definido como saber a ensinar, sofre, a partir de então, um conjunto de transformações adaptativas que irão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O ‘trabalho’ que faz de um objeto de saber a ensinar, a um objeto de ensino, é chamado de transposição didática.”

Yves Chevallard

 

A Transposição Didática pode ser entendida como o conhecimento científico transformado, ou seja, representa o processo de adaptação e transformação de um conhecimento de cariz científico para um conhecimento a ser ensinado, logo aprendido. Percebe-se, então, que é necessário que o conhecimento construído em meio académico deve ser adaptado para que possa ser ensinado: transmissível e assimilável. Porém, para que o conhecimento científico ou académico chegue aos alunos deve sofrer várias influências e ruturas, ou recontextualizações.

A primeira rutura, a acontecer ao nível dos decisores das políticas educativas (ministério da educação), corresponde aos conteúdos curriculares que devem constar nos programas escolares. A segunda rutura corresponde aos autores de manuais escolares que interpretam os programas escolares e os constroem com base nestes. A terceira rutura acontece ao nível dos professores que adaptam à sua prática quer as orientações curriculares, quer os conteúdos que constam nos manuais escolares.

Nesta sequência de ruturas da transposição didática corre-se o risco de haver uma deformação e degradação dos saberes científicos. O processo deve então ser consciente e refletido para que não se perca o essencial do saber que deve chegar aos alunos, ou que não chegue a estes de modo deturpado (equilíbrio entre o rigor do saber científico e a adequação ao público-alvo do mesmo) (Ramalho, 2017).

Como refere Ramalho (2017), são dois os atores que tomam as decisões relativas ao processo de transposição didática: os decisores políticos (transposição externa) e os professores (transposição interna).

O docente ao fazer transposição didática pode fazê-lo em vários eixos: “seleção e articulação de conteúdos, seleção de abordagens e de exemplos, seleção e conceção de recursos didáticos” (Ramalho, 2017, p. 24). Mas as suas decisões serão sempre no sentido de apropriação pelos seus alunos de conhecimento filtrado e modelado.



Bibliografia

Ramalho, H. (2017). Nos meandros da transposição didática: dos ziguezagues da legitimidade à diversidade de possibilidades. Revista de Educação Geográfica 2, 19-24. https://www.rcaap.pt/results.jsp



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