As mudanças de paradigma na Geografia: da Geografia Possibilista para a Nova Geografia
“A Geografia renova-se porque as sociedades e os territórios
estão em permanente transformação. Cada período temporal constrói o seu próprio
espaço, o que implica a necessidade de novas abordagens- novas teorias, novos
métodos, novas geografias.”
-Jorge Gaspar
A geografia surge como disciplina autónoma
no final do século XIX enquadrada pelo determinismo (corrente teórica que
atribuía um excessivo papel aos fenómenos naturais sobre os grupos humanos,
sendo a ação humana condicionada, ou “determinada” por aqueles) (Ribeiro,
2012). A Geografia deve a este paradigma a sua afirmação como ciência, com um
caráter sistemático e uma metodologia própria (estabelecer relações causais e criar
leis).
Geografia Possibilista
Em oposição à Geografia
determinista (o homem é um resultado do ambiente) surge a Geografia possibilista
(o homem é um agente de transformação do meio ao atuar sobre este). Surge assim
uma geografia mais preocupada com a complexidade da realidade, ou seja, a
complexidade de fatores que intervém na “organização da vida social sobre a
superfície da Terra” (Ribeiro, 2012, p. 11). Para o possibilismo a “natureza
põe e o homem dispõe”; a natureza dispõe os recursos, mas são os homens (“a civilização”)
que os utilizam e recriam consoante as suas necessidades.
É com o possibilismo que
se passa a encarar a geografia como uma ciência de charneira (ciência-ponte)
entre as dimensões físicas (Geografia Física) e humanas (Geografia Humana), ou
entre as ciências naturais e as humanas. Ao mesmo tempo a geografia passa a
eleger como objeto de estudo a região (Geografia Regional).
É com Vidal de la Blache que a geografia se torna claramente “anti determinista” e surgem conceitos como região, paisagem, modo de vida e circulação (Ferreira & Simões, 1994, p. 74). A perspetiva possibilista é sobretudo ecológica uma vez que incide sobre as relações entre os homens e a natureza, ou os grupos humanos e o ambiente. No caso de Portugal é Orlando Ribeiro quem melhor representa este “novo modo de pensar e fazer Geografia”.
Nova Geografia
A sociedade que surgiu com o fim da
II Guerra Mundial caracterizou-se por um acelerado crescimento económico, da
industrialização, da urbanização e as paisagens transformam-se de um modo,
muitas vezes irreversível. Estes fenómenos, como sabemos, são caros aos
geógrafos e exigem uma mudança no pensamento geográfico, o que leva ao questionamento
sobre a capacidade de a geografia regional responder a estas questões conforme
a originalidade com que se apresentam aos olhos dos geógrafos. Surge, assim,
uma nova ciência geográfica enquadrada pela corrente filosófica denominada de
positivismo lógico (Ribeiro, 2012). A Nova Geografia passa, então, a fazer uso
de modelos abstratos e a construir leis de comportamento espacia, a assumir uma
perspetiva corológica dos fenómenos, estabelecendo relações entre os lugares.
Em Portugal as sucessivas
reformas no ensino da geografia, concretizadas em diferentes momentos e
contextos históricos do país, tem tentado acompanhar as mudanças de paradigma da
ciência geográfica no sentido de concretizarem o que se espera do ensino que é
o de formar cidadãos conscientes e críticos da realidade do seu tempo e das
exigências que este lhes coloca.
Marvão, Portalegre
(foto da aluna)
Bibliografia
Ferreira, C. C., &
Simões, N. N. (1994). A evolução do pensamento geográfico. Gradiva.
Ribeiro, O. (2012). O
Ensino da Geografia. Porto Editora.
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