A Didática também é uma ciência
No dicionário o termo “didática” significa:
“ciência auxiliar da pedagogia, relativa aos métodos mais apropriados para promover
a aquisição de uma noção ou técnica; arte e ciência de fazer aprender; do grego,
arte do ensino”. Uma boa definição, mas que relativiza um pouco o que é a
didática, colocando-a como simples auxiliar da pedagogia, e que carece de
aprofundamento quanto ao modo como os alunos aprendem, ao papel do professor
nessa aprendizagem e ao papel das estratégias e recursos de ensino nesse processo
de ensino-aprendizagem. A didática deverá apoiar-se na pedagogia (os meios e
fins da educação), mas, de igual modo, da psicologia educacional (como é feita
a aprendizagem, como é que os alunos aprendem?). Mas, enquanto a pedagogia tem
um caráter teórico de discussão em trono das perspetivas de realização do
ensino, a didática coloca em prática estas perspetivas, questiona quais são na
prática as melhores estratégias e recursos a usar com os alunos para que estes
adquiram efetivamente as aprendizagens e as competências desejadas e desejáveis.
Cabe aqui ressaltar que a tradicional
distinção académica entre a Geografia científica e a Geografia Escolar, ou entre
a investigação científica, relativa aos conteúdos e conceitos da Geografia
(fundamentação científica), e a investigação da Didática da Geografia, relativa
à forma como se ensina Geografia e como se mobiliza a atenção dos alunos (fundamentação
pedagógica), não contribui para uma discussão proveitosa de como melhor conduzir
o ensino da Geografia na sua prática levando a que os alunos se sintam cativados
para a disciplina e envolvidos na aprendizagem. Afinal, como bem referiu o
Professor Sérgio Claudino, as estratégias de ensino a usar numa sala de aula
carecem de tanta sustentação científica como os conteúdos/conceitos a ensinar e
a aprender, logo ambas, Geografia Científica e Escolar, carecendo de igual
valor de cientificidade.
Assim, colocam-se ao
ensino de Geografia questões pertinentes de modo que esta disciplina alcance no
meio escolar, em particular dos ensinos básico e secundário, o valor formativo
que lhe é devido e a utilidade da Educação Geográfica para a formação de todos
os cidadãos e ao longo da vida. As questões relevantes em torno da geografia
escolar, tal como refere Cachinho (2000, p. 69), são “Que geografia ensinar?” (reflexão
epistemológica), “Como ensinar?” (reflexão metodológica) e qual “o sentido, o
valor formativo e as finalidades da disciplina” (reflexão sobre a utilidade da
educação geográfica). O debate em torno destas três questões orienta as práticas
didático-pedagógicas quotidianas do ensino da Geografia, dos alunos e dos professores
“que, quando postas em prática, permitam aos alunos mobilizar os conhecimentos
e o saber-fazer geográficos na resolução dos seus problemas e assim encontrem
sentido e utilidade na geografia escolar” (Cachinho, 2000).
As preocupações em torno
do ensino de Geografia e as questões levantadas pelas mesmas não se esgotam, nem
estão fechadas. É importante que o(s) debate(s) que se faça(m) em torno da
didática da geografia sejam realizados de modo constante, aprofundado e com o
valor de cientificidade que merecem e exigem. A geografia escolar é, ou está,
(ou deverá ser ou estar!), comprometida com as práticas de cidadania no quotidiano
dos alunos, ou seja, uma educação geográfica para a cidadania (Silva, et al.,2010),
que envolva os alunos em questões prementes do mundo que os rodeia e da sua
realidade quotidiana e a diferentes escalas.
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Centro geodésico de Portugal continental, Pico da Melriça, Vila de Rei, Castelo Branco (foto da aluna) |
Cachinho,
H. (2000). Geografia escolar: orientação teórica e praxis didática. Inforgeo,
15, 69-90. https://www.apgeo.pt/inforgeo-15
Silva,
E. I., Cavalcanti, L. S. & Nunes, S. C. (2010). Um olhar sobre a didática
de Geografia em Portugal. Polyphonía, 21 (1). http://repositorio.bc.ufg.br/handle/ri/18030
Selecções do Reader´s Digest (nd). Dicionário: O Português
Essencial. Porto Editora.
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